Defensoria Pública promove audiência e renova esperança de famílias que aguardam implante coclear

Defensoria Pública promove audiência e renova esperança de famílias que aguardam implante coclear

“Meu sonho é ouvir minha filha me chamar de mamãe.” A frase de Ozeiane de Lima Leonor, mãe da pequena Maria Ísis, de 4 anos, resumiu a emoção de muitas famílias que participaram, nesta terça-feira (23), de uma audiência pública promovida pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL), em Maceió. O encontro reuniu 15 famílias de crianças e adultos com deficiência auditiva, autoridades da saúde estadual e representantes da sociedade civil para discutir o futuro da política de saúde auditiva em Alagoas e a urgência de criar um Núcleo Estadual de Saúde Auditiva, além de um centro de referência para implante coclear no estado.

 

A audiência foi conduzida pelo defensor público-geral, Fabrício Leão Souto, com participação das defensoras públicas do Núcleo de Proteção Coletiva, Thais Moreira e Lívia Risso, e da defensora pública e chefe de gabinete, Andresa Gusmão. Também estiveram presentes a representante da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Nívea Macena de Lima, o otorrinolaringologista Dr. João Paulo Tenório e familiares vindos de diversas cidades de Alagoas.

 

Durante o encontro, os relatos foram marcados por emoção e preocupação. Muitas famílias contaram que seus filhos não realizaram o teste da orelhinha ao nascer e que, desde o diagnóstico, enfrentam dificuldades para garantir o tratamento. Algumas aguardam há mais de um ano na Justiça para ter acesso ao implante coclear, um dispositivo eletrônico implantado cirurgicamente que possibilita a reabilitação da surdez severa ou profunda, devolvendo a chance de ouvir e se desenvolver plenamente.

 

Segundo o Dr. João Paulo Tenório, mais de 400 crianças nascem por ano em Alagoas com alguma deficiência auditiva; porém, muitas têm o tratamento prejudicado pela falta de um centro de referência habilitado para o implante coclear no estado, o que faz com que algumas crianças percam a janela de neuroplasticidade cerebral — período crucial para o desenvolvimento da linguagem. “É uma oportunidade que não volta. Sem o implante, elas podem ter danos irreversíveis”, alertou.

 

O defensor público-geral, Fabrício Souto, reforçou o compromisso da instituição em garantir o tratamento adequado aos cidadãos. “A Defensoria Pública inicia hoje uma luta por uma política pública essencial para adultos e crianças de zero a cinco anos. Queremos reduzir a judicialização, garantir o desenvolvimento infantil e assegurar que todos tenham acesso ao tratamento auditivo. Nosso objetivo é que Alagoas conte com um centro de referência para implante coclear e saúde auditiva. Atuaremos até o fim para que crianças, adultos e idosos possam ter sua audição e vida social preservadas", concluiu.

 

Ao final, foram definidos encaminhamentos. A Defensoria Pública irá oficiar a Sesau sobre a necessidade de habilitar o Estado para o serviço de implante coclear, estruturar um núcleo de saúde auditiva e identificar o órgão responsável por centralizar as notificações do teste da orelhinha, entre outras medidas.

 

Após a audiência, Ozeiane de Lima Leonor saiu mais confiante: “Ela precisa fazer o implante até os cinco anos para ter uma chance. Hoje, com essa reunião, minha esperança foi renovada. Senti que a Defensoria quer realmente ajudar e fazer com que as coisas aconteçam mais rápido. Meu sonho é ouvir minha filha me chamar de mamãe. Mesmo que ela nunca fale perfeitamente, só de poder ouvir já seria um avanço enorme.”

 

A proposta da instituição segue os mesmos moldes do bem-sucedido Projeto Respirar, que transformou a vida de crianças traqueostomizadas no estado. Criado pela Defensoria Pública em articulação com órgãos do governo, o projeto eliminou a necessidade de judicialização, garantiu, em seu primeiro ano de funcionamento, mais de 500 procedimentos cirúrgicos e beneficiou mais de 220 crianças, além de reduzir custos para o Estado, ao permitir que os procedimentos fossem realizados na própria rede pública, sem depender de contratos emergenciais ou da necessidade de deslocamento para outros estados. Agora, a Defensoria quer replicar esse modelo na área de saúde auditiva, criando uma solução permanente, eficiente e humanizada.